O Homem Sem Doença, de Arnon Grunberg
Cômico, perturbador e surpreendente. Assim podemos definir a mais recente obra do holandês publicada pela Rádio Londres Editores no Brasil. Conheça O Homem Sem Doença.
Por Alexandre Melo, de Recife.
Foto: Ringel Goslinga |
O autor de Tirza, Arnon Grunberg caiu no gosto dos leitores e leitoras do Brasil, e a Rádio Londres Editores decidiu editar mais um livro do holandês por aqui. A obra O Homem Sem Doença (2016, 240 pgs) foi escrita em 2012, mas só agora chega às nossas livrarias, com tradução do holandês por Mariângela Guimarães.
Com um enredo que parece complexo à primeira vista, mas na pratica, bem simples, acompanhamos Samarendra Ambani - ou simplesmente Sam - um suíço de ascendência indiana, que é um arquiteto com mania de limpeza. Vive com sua mãe e sua irmã, que sofre de uma doença degenerativa, além de namorar uma moça chamada Nina. Sam é aquele tipo de pessoa cheia de tocs, idealista, perfectionista e completamente obcecado pela arquitetura e pelo mundialmente famoso arquiteto Max Fehmer. Sam vê sua profissão como uma forma de mudar o mundo, mais ainda do que outras ciências: "são poucos que convivem com a filosofia, apenas alguns entram em contato com a sociologia, mas todo mundo é confrontado diariamente com a arquitetura." Além disso, o suíço busca recursos para ajudar sua irmã doente a fazer uma cirurgia nos Estados Unidos.
Sonha em fazer algo grandioso e essa chance parece se aproximar quando ele decide concorrer a vaga oferecida por um milionário chamado Hamid Shakir Mahmoud, para projetar uma grande Ópera na Bagdá pós-Saddam. Quando é enviado ao país para seleção, contudo, se depara com situações que não esperava, e sua estadia lá não se torna nada agradável. Sam vai perdendo seu otimismo e tudo se complica ainda mais ao ser confundido com um espião internacional.
A edição que recebemos da Rádio Londres é muito bonita, a capa conta com as cores da bandeira suíça, é tem um projeto gráfico um pouco diferente do que a editora já tinha apresentado em outras publicações, mas retrata bem a história, em uma alegoria onde a cruz da bandeira torna-se um buraco, e onde vemos um homem em sua beirada. Para completar a nossa satisfação, tive o prazer de receber o exemplar autografado pelo autor, que esteve no Brasil recentemente em turnê de lançamento. Muito obrigado Arnon e Rádio Londres!
O livro é surpreendentemente bom, a narrativa é fluida, e não dá vontade de parar. Ficamos curiosos em saber quais serão as próximas desgraças em que Sam vai se meter, O Homem Sem Doença mistura ficção e realidade, já que Arnon Grunberg inspira-se na tentativa de construção de uma Ópera em Bagdá em 1957, pelo norte americano Frank Lloyd Wrigh - fato não concluído - e consegue unir em pouco mais de 230 páginas um relato que é ao mesmo tempo cômico e perturbador. Com um humor beirando o ácido, observamos a transtornada mente de Sam e o inesperado destino que o aguarda, enquanto nós não conseguimos parar de devorar as páginas do livro. Realmente Samarendra não é uma das pessoas mais sortudas que já se ouviu falar, mas apesar disso, é uma figura interessante e sua jornada vale a pena ser lida e recomendamos.
"Sentimentos e palavras não combinam. Em sua opinião a palavra mata o sentimento."
Recebemos essa edição cortesia em troca de uma opinião sincera, por nossa parceira editora: