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O Mundo de Aisha: a polêmica questão das tradições no Iêmen

Por Alexandre Melo, de Recife.

O Mundo de Aisha (Editora Nemo, 2015, 144 pgs) é uma obra linda, mas ao mesmo tempo, triste. Trata-se de uma Graphic Novel assinada por Ugo Bertotti, que foi inspirada nos relatos foto-jornalísticos de Agnes Montanari, que em viagem ao Iêmen, pesquisou sobre as tradições e a dura vida de algumas mulheres de lá. (Para quem não sabe onde fica o país, ele está localizado na península arábica, e faz fronteira com a Arábia Saudita.)


A obra é dividida em três arcos principais, onde encontramos histórias surpreendentes. A primeira, (e na nossa opinião a mais forte) aborda da vida de Sabiha, moça que se casa forçada, ainda muito jovem, e que sofre horrores nas mãos do marido, por coisas simples como, por exemplo, aparecer na janela sem cobrir o rosto com o niqab.



Na segunda encontramos Hammeda, uma senhora que mostra como prosperou em seu restaurante, após a morte de seu marido, mas não por isso deixou de sofrer preconceitos e ser chamada de "puta" por ser uma mulher que não seguia o que a tradição de sua região exigia para o feminino. 



No último arco, encontramos Aisha - que dá nome ao livro - uma jovem estudante de informática, que tem a oportunidade de escolher seu próprio marido. Neste arco conhecemos a vida urbana das mulheres, sua relação com escola, emprego, etc. Aqui também teremos outras mulheres iemenitas, cada uma com suas peculiaridades.



Um ponto em comum em todas é o uso da niqab, que nada mais é que um véu que cobre quase todo o rosto das muçulmanas, deixando apenas uma fenda para os olhos. A niqab "protege" as mulheres dos olhos e desejos dos homens. Em algumas partes da HQ, encontramos algumas delas resistentes ao seu uso, em outras, as que se aproveitam dele para aumentar sua liberdade, já que são "deixadas em paz" pelos homens, podendo dedicar-se aos estudos.



A Editora Nemo nos presenteia com uma obra linda, de projeto editorial muito bom, toda em preto e branco, com quadrinhos à nanquim, e que intercala desenhos com fotografias registradas pela jornalista Agnes. No tocante ao conteúdo, a HQ traz a tona um ambiente sufocante para ser mulher, um lugar onde o tempo parece não ter passado, onde o machismo se perpetua e a violência doméstica extrapola nossa indignação. Ao mesmo tempo, vemos a esperança, uma "revolução silenciosa" como diz o subtitulo da obra, onde as mulheres, mesmo que a duras penas, tentam mostrar sua força, e inspirar outras a mostrarem seu valor. As histórias do Iêmen trazem aos nossos olhos do ocidente, por meio do trabalho de Ugo e Agnes, uma reflexão de como o tema "tradição" pode ser polêmico. E até que ponto algumas delas  podem ser toleradas (ou não). É sem dúvidas uma HQ que recomendo.



Recebemos essa obra em troca de uma opinião sincera de nossos redatores, e agradecemos a nossa parceira, editora:


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